quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Só mais um


Paranóia. Pedro estava cansado de processos e processos e processos. Nada mais fazia sentido em sua vida. Paranóia. Nem as músicas dos Beatles que o relaxaram e o acompanharam durante toda sua vida surtiam efeito. Paranóia. Já não sabia se escutava o Revolver, ou o Let It Be. Todas as músicas eram iguais. Todos os Johns cantavam o mesmo refrão, e todos os Ringos tocavam a mesma batida. Paranóia. Ninguém mais era John, ninguém mais era Ringo. Ou seria Paul o baterista? Paranóia. Suas unhas arrancadas quando arranhava o chão, numa vã tentativa de desenterrá-la, já nem nasciam mais. O sangue que derramava era tão vemelho quanto o céu da noite em que os vampiros de seu pesadelo invadiram realmente o seu quarto. Ou teria ele sido sugado para uma outra dimensão? Paranóia, paranóia. Dia era noite, noite era dia, e tudo o que ele se lembrava era de ter esmurrado o último que tinha tentado entrar no apartamento, aquele que um dia fora seu primo, mas hoje ele não sabia mais quem eram seus parentes. Chegou o dia em que tudo voltará a fazer sentido. Pelo menos ele não seria tão estúpido ao ponto de não conseguir de novo, após seis tentativas frustradas. Sete é um número sugestivo. Sete voltas em torno do pescoço. Sete soluços antes do último pulo. Paranóia, paranóia. Sete segundos de dor. Sete segundos de agonia. Sete espasmos e um só derrotado. Só mais um para as estatísticas. Só mais um epitáfio de pais paranóicos.

Um comentário:

Isaías Junior disse...

muito bom...

gostei da sacada dos Batles...