sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Treinamento de Segunda Pessoa ou Espero Ter Feito Tudo Certo


Deverias por um fim nesta tua indeterminada vida na primeira ocasião em que passou pela tua cabeça. Havias escrito este juramento unilateral em bilhetes de amor, palavras nem necessárias nem românticas, para impressionar quem não poderia ser. Mas tu insistias em vida de amor platônico. O caso não chegou perto de ser divertido, ficavas confuso e isso não te motivavas a ser direto. Era puro mau gosto, a menina não tinha nada para chamar tua atenção, olhastes para ela com mais destreza, viste o que qualquer um poderia e julgaste: amor!

– Até que ela é bonita... – desta me lembro, foi o que tu pensaste descascando-a com teus olhos quando ela dava ordem sobre o vosso trabalho na escola. Hah! Babaca! Odeio crescer, prefiro a mediocridade de um adolescente desinteressado a essa incerteza sobre minha inteligência. Lembras e escreves como era feliz neste tempo, talvez assim possa ao menos saber ao certo se és o que és. Tu tomas cuidado, olhar não mata, mas atente-se ao que vem dessa visão.

Os bilhetes foram seguidos de desvio e silencio; havias conseguido, ela te odiava por causa de teu amor infantil; ela queria crescer e tu eras feio demais. Guardo este trauma até hoje. Viraste então parte de um movimento que ninguém nem tu conhecias, aprendeste a ser sensível, não, aprendeste a parecer sensível. Chorava para ela, a cada desvio de olhar, a cada mensagem escondida que ela te mandava na conversa em voz alta com as amigas.

- Espero um cavaleiro em montaria branca, mas até agora só chegou estrume. – hilário. Teus amigos nada sabiam, nem poderiam ajudar, não sabias o que sentia, ninguém poderia, só ela que te fazia sentir para ver se você reagia. Ai de mim agora se tu tivestes reagido, eu estaria feito, a terias em mãos, era o que ela procurava, alguém forte de verdade e não tu: eras gigante, mas te escondias atrás daqueles minúsculos bilhetes, e isto mostrava que não estavas pronto para ser o par dela.

Deu no que deu, apenas quatro anos depois ela falou novamente contigo, durante uma discussão sobre um simulado, tu não ligavas mais para ela, nem ela para ti. Mesmo assim não cresceras e ainda estragastes outro amor possível.

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